TCC TEORIA E PRÁTICA

Vou mostrar a você a psicologia de um modo descomplicado, eficaz e prático, seguindo a Terapia Cognitivo-Comportamental e contando sobre a incrível jornada de ser psicoterapeuta. Seja bem vindo à minha vida real!

Modelo Cognitivo para tratamento do Transtorno de Ansiedade Generalizada

Modelo Cognitivo para tratamento do Transtorno de Ansiedade Generalizada

Segundo Beck J. (2013) “o modelo cognitivo propõe que o pensamento disfuncional (que influencia o humor e o comportamento do paciente) é comum a todos os distúrbios psicológicos”.

Desta forma, quando o paciente apresenta queixas relacionas à emoção e ao comportamento, devemos atuar no pensamento, buscando uma avaliação mais realista daquela situação, com o objetivo de modicar os pensamentos disfuncionais e em seguida trabalhar, em um nível mais profundo, as crenças básicas do paciente sobre si mesmo, seu mundo e as outras pessoas. É essa mudança das crenças disfuncionais que irá garantir uma mudança mais duradoura.

Em Serra (2011), os indivíduos ansiosos se distinguem dos não ansiosos justamente pela percepção distorcida de situações inofensivas como ameaçadoras e perigosas. Descreve, ainda, que todos os indivíduos apresentam ao longo do dia processos biológicos normais, que podem estar ligados a uma autorregulação do nosso organismo ou ao estresse, cansaço e ao excesso ou falta de alimentação. Alguns exemplos são: taquicardia, alterações na pressão arterial, aceleração ou desaceleração da respiração, vertigem, adormecimento ou formigamento das mãos e enjoo.

Segundo Serra (2011), possuir Flexibilidade Cognitiva é ter a capacidade de procurar interpretações alternativas, ao invés de ficar “preso” à primeira interpretação que ocorrer. Os pacientes com transtornos emocionais, porém, perderam esta flexibilidade que é inata.

O perfil cognitivo de portadores de transtornos de ansiedade tem como tema central a “vulnerabilidade”, decorrente de uma tendência de superestimar perigos, como danos físicos e/ou sociais, e a subestimar os próprios recursos de enfrentamento. Assim, segundo Serra (2010) a vulnerabilidade cognitiva explicaria a instalação e manutenção dos transtornos emocionais. Os portadores de transtorno emocional têm uma tendência aumentada a cometer distorções, ao processarem a realidade interna e externa. Isto revela¸ também, uma resistência a considerar interpretações alternativas.

Salkovskis (2004) afirma que a persistência de interpretações excessivamente negativas de estímulos, situações e eventos como sinais de ameaça, é vista como essencial para  experiência da ansiedade. A percepção de que o indivíduo está sendo ameaçado ou em perigo, seja física ou social, prepara o organismo para responder ao perigo ou ameaça esperada (Greenberger; Padescky, 1999). As respostas corresponderiam aos sintomas primitivos, fisiológicos, afetivos e comportamentais de um transtorno de ansiedade. Portadores de transtorno de ansiedade tendem a experienciar impacto negativo no seu funcionamento intelectual, social e ocupacional .

Paul Salkovskis (2005) propôs um modelo cognitivo de ansiedade que traduz, de forma criativa e eficiente, os fatores que interagem e determinam a intensidade da experiência de ansiedade pelo paciente, diante dos eventos que habitualmente desencadeiam sua resposta emocional – a ansiedade – e suas respostas comportamentais – as chamadas estratégias compensatórias:

A= PROBABILIDADE percebida da ameaça X grau de AVERSÃO ao perigo
       Capacidade percebida de ENFRENTAMENTO + fatores de RESGATE

 

Probabilidade = qual a probabilidade do evento temido acontecer.

Aversão= qual o grau de aversão (receio) do evento caso ele ocorra.

Enfrentamento= quais os recursos têm para enfrenta isso.

Resgate= quem pode ajudar se isso acontecer.

Segundo ele, os quatro fatores acima seriam multiplicativos e sinergéticos.  Um indivíduo ansioso poderia perceber alta probabilidade de ocorrer uma situação temida, bem como um alto custo ou grau de aversão a ela. Além disso, seus fatores de enfrentamento – resgate – são percebidos de forma diminuída ou ineficiente. Sendo assim, a ansiedade aumentará e o indivíduo poderá adotar comportamentos de busca de segurança, como a esquiva, a evitação, a verificação para lidar com a ameaça e o perigo percebido. Tais comportamentos promovem alívio imediato, mas contribuem para o aumento e manutenção do transtorno de ansiedade, já que evitam a desconfirmação das hipóteses distorcidas sobre o perigo e o enfrentamento.

Desta maneira, a teoria apresenta o modelo de vulnerabilidade / estressor, onde quanto mais vulnerável a pessoa estiver, menor precisará ser o estressor para ativar esta vulnerabilidade.

Embora o modelo cognitivo de psicopatologia não seja exclusivo para os transtornos de ansiedade, o modelo descrito por Serra (2011) representa como as crenças disfuncionais são ativadas, independente do transtorno:


Segundo Serra (2011, p 50), “as crenças disfuncionais são ativadas através de um estimulo crítico eliciador (interno ou externo) e expressas através de pensamentos automáticos negativos que determinam as emoções e os comportamentos decorrentes”.

A base do modelo cognitivo é a mesma, independendo do tipo de transtorno apresentado. Consiste na ideia de que as emoções são experimentadas de acordo com a maneira que os eventos são avaliados e interpretados. Salkovskis (2005, p. 61) relembra o conceito da especificidade cognitiva “[…] o mesmo evento pode provocar uma emoção diferente em pessoas diferentes, ou mesmo emoções diferentes na mesma pessoa em ocasiões diferentes”, o que auxilia no entendimento de como os sentimentos de ansiedade estão associados a ideias de perigo ou ameaça pessoal para pessoas com um determinado padrão de pensamento.

Dentro da perspectiva cognitiva, a ansiedade está inserida no conceito de vulnerabilidade, tendo como premissa o fato de as pessoas acreditarem estra em perigo, ou seja, acreditarem que estão sob alguma ameaça física ou social.

As duas principais características de vulnerabilidade cognitiva são a tendência a interpretar erroneamente certas situações como perigosas e a predisposição a perceber a si mesmo como fraca, ou sem recursos pessoais para lidar com certo tipo de situações ameaçadoras ou estressantes. “Ambos os aspectos de vulnerabilidade cognitiva devem estar presentes para um indivíduo ser cognitivamente predisposto à ansiedade” (Clark; Beck , 2012, p.119).

Segundo os mesmos autores, a vulnerabilidade cognitiva para a ansiedade se desenvolve “por meio de vivências repetidas de negligência, abandono, humilhação e traumas durante a infância e adolescência”. (Clark; Beck, 2012, p.119). Esta vulnerabilidade permanece latente até ser ativada por um evento crítico, ou outras formas de estresse percebido pela pessoa. Depois de ativada, o processamento de informações e a avaliação da realidade passariam a ser dominados pelo esquema de ameaça, sempre que um sinal de perigo fosse encontrado.

Conforme descreve Clark e Beck (2012, p.118) “um evento, situação ou circunstância de vida que é avaliada como uma ameaça potencial à sobrevivência ou interesses vitais do indivíduo pode ativar uma vulnerabilidade subjacente que levará a um estado de ansiedade”. Ainda para estes autores, a vulnerabilidade cognitiva para a ansiedade começa a se desenvolver na infância e na adolescência, por meio de experiências repetidas de abandono, negligência, humilhação. Deve-se, portanto, considerar que o contexto familiar do paciente, nesta idade, contribuiu para o desenvolvimento desta vulnerabilidade.

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Ana Flavia Lima

Apaixonada pela psicologia desde 2000. Graduada pela PUC Minas em 2005. Especialista e supervisora em Terapia Cognitivo Comportamental pelo ITC - São Paulo Terapeuta do Esquema pela Wainer Psicologia Cognitiva. Sócia proprietária da Clínica Inteiramente.

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